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Seguidores de Cristo


O contraste entre o discipulado e a religiosidade.

Enquanto Jesus percorria a terra de Israel, muitas pessoas o acompanhavam, mas dois tipos se destacaram: os discípulos e os religiosos, seguidores e perseguidores respectivamente. Eles estavam sempre presentes, mas por motivos diferentes. Lendo os evangelhos, principalmente os de Mateus e Lucas, percebe-se que os escribas, fariseus e saduceus “seguiam as pisadas do Mestre”. Eles são citados desde a visita dos magos até a crucificação. Eles viram Jesus, presenciaram milagres, ouviram seus ensinamentos, mas não foram salvos. Tornaram-se o triste exemplo de pessoas que compareceram aos momentos mais gloriosos da história, mas perderam a oportunidade de se tornarem servos do Senhor. Foram testemunhas oculares, porém inúteis. Acompanharam o Mestre na terra, mas não viverão com ele no céu.

Notamos a presença ou referência a tais personagens em Mateus 2.4; 3.7; 5.20; 6.2,5,16; 7.29; 9.3; 9.11; 9.14; 9.34; 12.2; 12.10; 12.14; 12.24; 12.38; 15.1-14 ; 16.1-12; 16.21; 19.3-8; 21.15-17; 21.23-32; 21.45-46; 22.15-22; 22.23-36; 22.41-46; 23.1-35; 26.3-5; 26.14; 26.47; 26.57-59; 27.1-2; 27.62; 28.11-13.

OS GRUPOS

No primeiro século da era cristã, o judaísmo estava dividido em seitas. Havia grupos religiosos e políticos. Alguns atuavam nos dois setores ao mesmo tempo. As principais facções eram: fariseus (At.15.5), saduceus (At.5.17), herodianos (Mt.22.16), zelotes (At.1.13), sicários (At.21.38) e essênios (estes não são citados na bíblia). Cada grupo se considerava melhor que o outro. Suas diferenças básicas eram o nível de zelo no cumprimento da lei e a postura favorável ou contrária ao governo romano. As atitudes políticas iam desde a aceitação passiva até o nacionalismo fundamentalista, fomentador de revoltas armadas.

Os escribas não constituíam um grupo religioso. “Escriba” era o ofício daqueles que copiavam as Escrituras.

A seita dos fariseus era a mais popular, com o maior número de adeptos. Os saduceus, por sua vez, eram a elite sacerdotal. Os fariseus eram ortodoxos, rigorosos no cumprimento da lei e contrários aos romanos. Os saduceus eram mais flexíveis na obediência a Moisés e apoiavam o Império. O que mais lhes interessava era viver bem, aproveitando o melhor de ambos os lados: o judaico e o romano.

Esses grupos eram opostos entre si, mas, para surpresa de todos, demonstraram grande união quando o assunto era perseguir o Senhor Jesus (Mt.22.15-16).

O PERFIL DOS PERSEGUIDORES

Seria normal que Jesus obtivesse aprovação de uns e reprovação de outros, como acontece até hoje. Contudo, é impressionante que aqueles que o reprovavam eram pessoas religiosas, crentes, conhecedoras e praticantes da lei.

- SUA FÉ – Criam em Deus, mas não em Jesus. Dessa forma, não podiam ser salvos. Ele mesmo disse: “Credes em Deus. Crede também em mim” (João 14.1).

- SEU CONHECIMENTO - Aqueles religiosos conheciam muito bem as Sagradas Escrituras. Isso é ótimo, mas sem o compromisso com Jesus, o conhecimento se tornava inútil e até prejudicial, pois eles distorciam a palavra de Deus para diversos fins. Eram profundos conhecedores da letra. Alguns deles eram copistas do Antigo Testamento, doutores da lei, mas ignoravam por completo a graça divina.

- SUA PRÁTICA – Fariseus e saduceus eram praticantes de rituais, costumes e tradições, mas não estavam dispostos a fazer o que Jesus mandava. A liturgia, os usos e costumes, tornam-se vazios e sem valor quando a pessoa não é um discípulo de Cristo. Ocorre então a oração sem fé e sem resultado; a palavra sem vida e sem autoridade; a oferta sem generosidade; o agradecimento sem gratidão. Tal é a religiosidade desprovida de uma viva experiência com Deus, como disse Jesus: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mc.7.6).

OS MOTIVOS DA OPOSIÇÃO A CRISTO

Logo que o Senhor Jesus começou o seu ministério, o povo observou que o seu ensino era melhor que o dos escribas (Mt.7.29). Ele fazia milagres, curava as pessoas, expulsava os demônios. Nenhum fariseu ou saduceu era capaz de fazer isso. Eles se sentiram, então, diminuídos e humilhados. O novo rabi representava, aos seus olhos, uma ameaça. O prestígio dos líderes religiosos diante do povo começava a ruir. Estaria surgindo uma nova seita para conquistar seus rebanhos? O ciúme e a inveja nasceram e cresceram rapidamente. Suas posições precisavam ser defendidas a todo custo, pensavam.

OS ATAQUES

Os fariseus e saduceus viviam atentos a qualquer movimento novo. Por isso, compareceram ao batismo de João, quando receberam o título de “raça de víboras” (Mt.3.7). Depois, passaram a seguir Jesus. Em alguns momentos, faziam perguntas que poderiam até passar a idéia de um sincero interesse pela verdade e pelos ensinamentos do Mestre (Mt.12.10; Mc.12.28; Lc.10.25,29). Contudo, ele não se enganava com eles, pois conhecia seus pensamentos (Mt.9.4; 12.25).

Houve também questionamentos irônicos e maldosos (Mt.9.11; Mt.15.1-2; Mt.21.15-16; Mt.21.23; Mt.22.23-28; Mc.2.18,24; Mc.10.2; Mc.11.28; Mc.12.18-19; Jo.9.40).

Eles tentavam desmoralizar Jesus diante do povo, procurando colocá-lo em situação difícil, embaraçosa, ou até mesmo fazê-lo transgredir a lei mosaica (João 8.3-5) ou romana (Mt.22.15-18). Não conseguiram seu intento.

O ciúme e a inveja geraram a indignação (Mt.21.15) e o ódio (João 15.25). Dos questionamentos, passaram às acusações (Mt.9.3; 12.25) e às blasfêmias (Mt.12.24). Por último, a conspiração (Mt.12.14; 26.4), a prisão (Mt.26.57) e a morte do Messias (Mt.27.1-2).

Lendo Mateus, percebemos o aumento da tensão entre Jesus e os religiosos. No princípio, o Mestre lhes dava pouca atenção. Do capítulo 21 ao 23, ele passou a atingi-los diretamente com seus discursos. Algumas parábolas foram dirigidas especificamente aos fariseus e saduceus, denunciando a falsidade de sua religião (Mt.21.23 a 22.15). Era chegado o ápice do confronto. A partir de então, eles não mais o procuraram para fazer perguntas (22.46). O ataque seguinte seria para matá-lo.

RELIGIOSO OU DISCÍPULO?

Quando Jesus veio, já encontrou a religião judaica em pleno funcionamento. Logo, sua proposta deveria ir além da religiosidade vigente, e assim foi. Jesus veio ensinar, não uma religião, mas um modo de vida em sintonia com o Pai. O sermão da montanha mostra exatamente esse contraste (Mt.5 a 7), cuja síntese pode ser observada nas suas palavras aos discípulos em Mt.5.20:

“Se a vossa justiça não exceder à dos escribas e fariseus, de modo algum entrareis no reino dos céus”.

Em todo o sermão, observam-se dois tipos de comportamento, dois níveis de justiça, dois padrões de vida representados, principalmente, pela fórmula: “Ouviste o que foi dito aos antigos, eu porém vos digo...”. Os religiosos cumpriam muito do que foi dito pela lei, e ainda acrescentavam inúmeros costumes e tradições (Mt.15.1-6). Davam esmola (Mt.6.2) e ofertas (Mt.5.23), oravam (Mt.6.5), jejuavam (Mt.6.16), etc, mas, ao mesmo tempo, tentavam ajuntar tesouros na terra (Mt.6.19), servir a dois senhores (Mt.6.24) e julgar o próximo (Mt.7.1). O religioso fariseu pode acabar se tornando falso profeta (Mt.7.15), sendo também representado nas palavras de Jesus como a árvore que dá mau fruto (Mt.7.17) e a casa construída sobre a areia, cujo fim será a ruína (Mt.7.26).

Jesus veio ensinar o modo de vida do discípulo, que deve ser caracterizado pelas bem-aventuranças (Mt.5) e um tratamento profundo contra as raízes do pecado que se ocultam no olhar (Mt.5.28), no sentimento (Mt.5.22), nas intenções (Mt.5.28) e nas palavras (Mt.5.22). A vida que Cristo propõe é dirigida pelo Espírito, não se tratando apenas de um conjunto de práticas aprendidas através da letra.

O discípulo também dá esmolas e ofertas, jejua e faz orações, mas os seus motivos são diferentes do religioso (Mt.6.2,5,16). Tudo que o fariseu faz tem como alvo o público. Não que ele queira abençoar alguém, mas apenas impressionar, de modo que sua imagem pessoal seja promovida. É o culto horizontal, do homem para o homem (Mt.6.1,2, 5,16).

O verdadeiro discípulo tem a única intenção de agradar ao Pai (Mt.6.1,4,6,8,9,14,15,18). Por isso, muitas de suas ações serão discretas ou até secretas (Mt.6.3,4,6,18), esperando que só o Pai veja e fique satisfeito.

A PERSEGUIÇÃO CONTINUA

Poderíamos imaginar que, com a morte de Jesus, fosse encerrado o conflito com os religiosos, mas isso não aconteceu. O livro de Atos mostra o ferrenho combate dos líderes religiosos contra a igreja primitiva. Depois de matarem o Senhor Jesus, começaram a matar os apóstolos. Sacerdotes e fariseus continuavam coligados nessa luta interminável.

O Mestre já havia predito: “Eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas... Se chamaram Belzebu o dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?” (Mt.10.17,25).

“Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós” (João 15.20). “E até pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos sereis entregues; e matarão alguns de vós” (Lc.21.16).

“Ainda mais, vem a hora em que qualquer que vos matar julgará prestar um serviço a Deus” (João 16.2).

Não é de se estranhar, portanto, que até hoje os verdadeiros servos de Jesus sejam combatidos por pessoas religiosas que afirmam crer e servir ao mesmo Deus que nós.

E NÓS, QUEM SOMOS?

Além de tudo o que foi dito, o mais importante é que cada um examine a si mesmo para ver se tem sido um discípulo ou religioso.

A falsa religiosidade é o lugar comum para onde todos correm o risco de se dirigirem pela simples inércia, pelo descuido com a santidade e pelo relaxamento na busca ao Senhor. Quando menos esperamos, já estamos vivendo o mero cumprimento de obrigações e costumes, vivendo um cristianismo mecânico, onde há movimento, mas não existe vida.

Alguns tornam-se até perseguidores dos irmãos. Precisamos tomar cuidado para não criarmos concorrências e combates por motivos doutrinários, comerciais ou políticos, como acontecia no ambiente judaico do primeiro século.

Particularmente nós, estudantes e professores de teologia, precisamos estar atentos a fim de não nos tornarmos os escribas da atualidade, profissionais da fé, cheios do conhecimento, mas sem o compromisso do discípulo que conhece o Mestre, aprende com ele e vive para ele.

O Sermão da Montanha continua sendo um excelente conjunto de parâmetros para a auto-análise nesse sentido.

ESPERANÇA DE TRANSFORMAÇÃO

Jesus ama os religiosos, embora tenha sido duro com eles. A maioria não se converteu, mas alguns sim (At.15.5), dentre os quais temos dois exemplos muito positivos:

- Nicodemos era um fariseu, um mestre da lei, que foi procurar Jesus secretamente (João 3.1; 7.50; 19.39). Cristo o recebeu de braços abertos, como faz, ainda hoje, com todo aquele que deseja deixar de ser um mero religioso para se tornar um verdadeiro servo do Senhor.

- Saulo de Tarso também era fariseu (At.23.6; Fp.3.5) e um dos maiores perseguidores da igreja primitiva. Encontrou-se com Jesus após a ressurreição no caminho de Damasco e ouviu sua voz que dizia: “Saulo, Saulo, por quê me persegues”? (At.9.4). Naquele dia, o perseguidor caiu por terra e converteu-se, tornando-se o grande apóstolo Paulo.

O Senhor deseja que nos lancemos aos seus pés, deixando de ser seguidores sem compromisso. Não podemos admitir um cristianismo farisaico, sem vida, sem poder, sem santidade, consistindo apenas no cumprimento de rituais e tradições humanas. Que o Senhor tenha misericórdia de nós e nos ajude a sermos discípulos fiéis. Que, como Paulo, sejamos usados com grande poder para a glória de Deus.

Anísio Renato de Andrade – Bacharel em Teologia.
Professor do Steb - Seminário Teológico Evangélico do Brasil
e do Sebemge - Seminário Batista do Estado de Minas Gerais

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